domingo, 9 de setembro de 2012

Contra a farsa das urnas: Partidos Socialistas são a Velha Nova Ameaça!


Neste período de eleições, muita gente me pergunta sobre o meu partido, como se o fato de eu ser filiado a um partido fosse sinônimo de acreditar que esse partido vai fazer revolução (ou melhorar o país) através das urnas. Então vamos lá:


PRIMEIRO PONTO: eu não acredito nas urnas como via de transformação, muito menos como via revolucionária. Não acho que é pra isso que um partido serve.

Claro que sei o quanto uma candidatura eleitoral pode fazer diferença para o bloco dos que querem fazer a revolução. Quando bem utilizada, é claro. E tenho vários exemplos, em todo o Brasil, de gente que faz uso de campanhas eleitorais, do meu partido e da frente de esquerda (PSOL, PCB, PSTU), para travar debates extremamente importantes em suas cidades e em seus estados (e a nível nacional, lembram do Plínio? http://www.youtube.com/watch?v=uFaB9SsL6Io). Postei esse vídeo, não pra pedir voto pro Plínio (que nem é mais candidato), e sim porque ele é paradigmático: mostra como os espaços de uma campanha podem ser utilizados como polo aglutinador, para aproximar as pessoas que querem lutar por mudanças, por transformação.

Claro que sei que um mandato de um partido socialista, um mandato popular e com perspectiva revolucionária, pode fazer profunda diferença na conjuntura da luta contra as opressões e contra a exploração capitalista. Olhe, por todo canto, onde há mandatos do PSOL, e compare com todo o resto da política parlamentar brasileira. Não se trata de campanha eleitoral, se trata de explicar o motivo de eu acreditar que o PSOL, o PCB ou o PSTU numa câmara de vereadores, numa assembléia legislativa ou no congresso federal, não são a mesma coisa do que os outros partidos aí. Achar que é a mesma coisa é tolice, transformar a crítica numa perda de referências besta.

Partido não é tudo igual, mas nós, da frente de esquerda, que somos diferentes dos partidos burgueses, não vamos fazer a revolução por dentro da via parlamentar, e é justamente sobre o lado de fora da lógica da urna que eu quero falar com vocês, que ainda estão me acompanhando neste texto.

SEGUNDO PONTO: um partido socialista deve ser um polo aglutinador. Pessoas (indivíduos e grupos), com histórias de vida singulares, únicas, estão percebendo certas coisas, e deixando de perceber outras, na atual realidade de suas cidades, de seus estados, do Brasil e do Mundo. Essas pessoas estão sofrendo em consequência da atual condição do capitalismo, mas algumas estão iludidas de que isso é viver bem, outras estão perdidas quanto à estratégias de luta (apostando em vias estéreis para atingir a revolução), outras estão achando que as lutas reformistas são mais eficazes que as revolucionárias (mas o capitalismo transforma reformas em formas de se auto-fortalecer, o reformismo não tem eficácia), e há ainda as que estão achando que não tem mais esperança, de que o capitalismo vai ficar assim mesmo. São diversas posições, na dinâmica do plano político em que vivemos.

O motivo da existência de um partido socialista é ocupar uma posição neste plano, que permita deslocar essas diversas posições em direção à posição de luta revolucionária. Queremos ganhar pessoas (indivíduos e grupos) para a convicção de que pessoas podem transformar a realidade, quando unidas e coletivamente organizadas. Para isso, basta que elas tomem partido, que elas se decidam. Hoje há pessoas em condição material de miséria ou de dificuldades pra viver, e pessoas em condição material de luxo, de esbanjamento, sustentando-se na miséria dos primeiros (não tem como fechar os olhos e mudar isso só com energias positivas, só o poder da imaginação). Isso é um dado da realidade, quem quiser olhar para o mundo tal como está hoje, não pode questionar isso a não ser que tenha más intenções em negar a realidade. Negar isso é favorecer o grupo dos que esbanjam. Ponto.

Fazer parte de um partido socialista é tomar partido pelo lado de cá, pelo lado dos que não querem continuar na miséria. Queremos acabar com essa divisão, mas quem está esbanjando não quer perder essa bocada, então acabar com a divisão só é possível através da luta. Insisto mais uma vez ao bonde dos neutros: a posição de vocês favorece quem esbanja, o lado de cima do muro faz parte do lado de lá, então tomem partido logo de uma vez. Qual é o lado de vocês?



TERCEIRO PONTO: a inflexão. Mas se partido socialista não quer dizer tentativa de chegar ao poder pelas urnas, igual aos partidos burgueses, porque é que vocês disputam eleições? Basta ler o primeiro ponto. As eleições não são uma finalidade, são uma estratégia. Mas prestem atenção: os nossos partidos (PSOL, PCB e PSTU) estão por toda parte, nos movimentos sociais, fora do período eleitoral, lutando apaixonadamente por mudanças.


Vocês erraram: nós não estamos nos movimentos tentando fortalecer nossos candidatos pros processos eleitorais, é o contrário. Nós estamos nos processos eleitorais tentando usar nossos candidatos pra fortalecer os movimentos dos quais eles fazem parte, e dos quais nossos militantes fazem parte. Nosso interesse não é a urna, nosso interesse é a luta!

Claro que há interesses eleitoreiros no seio de nossos partidos, nós lutamos contra isso dentro dos partidos. Por isso mesmo, vocês que estão aí fora, e que concordam conosco, poderiam estar aqui dentro dos nossos partidos, ajudando a gente a fazer as lutas internas, para que esses partidos sejam cada vez mais coerentes nas lutas externas, contra os que esbanjam. Derrotar o peleguismo dentro dos partidos socialistas é a velha nova ameaça! Se isso faz um mínimo sentido pra vocês, tomem partido, filiem-se a um partido socialista (e nem pedi filiação necessariamente ao meu partido, como vêem). Construam a Frente de Esquerda!



QUARTO PONTO: esse é o mais polêmico, e é especificamente sobre o PSOL. Por que você tá em um partido que tem mais briga interna do que externa? Por que um partido de correntes? Por que um partido que aceita opiniões tão diferentes?


A última pergunta começou a responder a si mesma e às duas perguntas anteriores. Eu construo o PSOL porque aposto na convivência de opiniões diferentes, construindo sínteses necessárias na atual conjuntura da classe que quer a revolução.



PSOL, PCB (atenção, não é o pelego do PC do B não! Não é o partido do código ruralista, nem o partido da máfia do ministério do esporte, muito menos o partido da UNE corrompida e burocratizada! O PCB é outro, não entra qualquer partido na Frente de Esquerda não!) e PSTU são três partidos muito diferentes. Se eles estão separados, se não são um mesmo partido, é justamente porque há discordâncias quanto à organização do partido (são normais, afinal, ocupamos posições próximas, mas diferentes, no atual plano político em que vivemos). Ao contrário do PCB e do PSTU, o PSOL tem uma peculiaridade, que é a existência de muitas correntes, que pensam diferentes em muita coisa (inclusive no próprio modelo organizativo). Mas as correntes socialistas divergentes ficam mais forte quando, apesar das divergências, coexistem num mesmo espaço, do que quando ignoram as convergências e acham que só têm motivos pra estarem separadas. Quando um partido permite a coexistência de muitas idéias diferentes, e inclusive de indivíduos que não concordam com nenhuma corrente, mas ainda assim querem se filiar a um partido socialista, a nossa classe fica mais forte. Se o PSTU não existisse, PCB e PSOL estariam mais fracos diante da burguesia. Se o PCB não existisse, PSTU e PSOL estariam mais fracos diante da burguesia. Da mesma maneira, a existência de um partido com essas características do PSOL favorecem não só ao PSOL, mas a toda a classe, e a todos os verdadeiros partidos socialistas.


Em um partido de correntes, é possível haver disputas que geram sínteses. Isso fica mais forte quando esse partido não decide as coisas na conversa entre as correntes, mas sim a partir de Núcleos de Base, em que cada filiado pode intervir ativamente na vida partidária. E convido a militância do PSOL a entender, ou a se lembrar, da urgência e importância desta pauta. Núcleos de Base ativos no PSOL já!

Por fim, acho que o partido de correntes não é o modelo de partido perfeito para qualquer conjuntura na história da humanidade não. A Revolução Russa talvez não fosse possível sem o modelo de partido que Lênin propôs. Um partido bem centralizado, pra aguentar a luta contra um czarismo perverso. Se os russos tentassem a revolução de 1917 com um partido com o formato organizativo do PSOL, eu ponho minha mão no fogo (apesar de não ter bola de cristal) que não teria nenhuma chance de sucesso.



Acho que o formato do PSOL é necessário HOJE, depois da fragmentação da classe causada e aprofundada, entre outros fatores, pela traição petista, e pelo fim do ciclo PT na esquerda brasileira (PT virando um partido burguês que confunde a classe). Muita gente vai sendo deslocada, vai acordando da confusão, e com muitas opiniões diferentes sobre tudo isso. Neste momento, ter um partido que aceite opiniões diferentes, é muito necessário.


Mas eu não sou bobo de achar que o PSOL sozinho vai salvar a esquerda do atual momento difícil em que vivemos nas últimas décadas, por isso eu faço aqui mais uma vez a defesa que fiz durante todo esse texto: a Frente de Esquerda é urgente e necessária. A Frente de Esquerda é a velha nova ameaça!

PONTO FINAL: Espero que este texto tenha ajudado a dirimir as dúvidas das pessoas que não entendem a importância do partido socialista como polo aglutinador que aumente cada vez mais a hegemonia da classe trabalhadora na luta. Frente de Esquerda (e não apenas nas urnas, mas nas lutas cotidianas dos movimentos sociais); combate ao peleguismo nos partidos socialistas (e no PSOL, Núcleos de Base são a velha nova ameaça, podes crer!); quanto à urna, candidaturas e mandatos como armas, mas não como solução; autonomia para os movimentos sociais (os partidos fortalecem os movimentos, mas não devem se apossar deles, e apesar de deverem estar a serviços dos movimentos, a autonomia tem mão dupla: movimentos também devem respeitar a autonomia dos partidos!); fim do mito de cima do muro.

Tome partido!


beijinhos de maracujá!

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